sábado, 25 de junho de 2011

Um poema antigo que continua atual (infelizmente)

Plantação

                                  
O agricultor matou a fome com um naco de terra
e protegeu-se do frio com um cobertor de vermes.
Não tinha terra; agora, ele era a terra.
E, no buraco que a espingarda cavou em seu peito,
fincaram-se as raízes da miséria e do desespero.

Seu sangue, ainda quente, irrigou a lavoura
e fez brotar flores raquíticas
de frutos que não matam a fome.
Sua carne, mesmo que pouca, adubou as plantas
e deu-lhes a palidez mórbida
do triste fim de seu cultivo.

Novos agricultores vão chegando
para também fincar raízes naquele latifúndio.
Novos agricultores vão chegando
para saciar a mesma fome de terra.
Novos agricultores vão chegando;
são iguais na busca e também no destino
de cair sempre nas garras da mesma fera.

E, a cada novo estampido de tiro,
vê-se mais uma semente
na plantação de homens.

Um comentário:

  1. Oi José,estou muito feliz em encontrar seus escritos aqui, saudade sua.Obrigada pelas palavras no meu blog.

    ResponderExcluir