segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Peregrinos


Subo as ladeiras de Santa Teresa para ver A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes. O show está marcado para as quatro. Como bom poeta que sou, chego no Largo do Curvelo às quatro e meia. Procuro pela banda e me dizem que o show é no Largo dos Guimarães. Paro em cada bar do caminho pra saber se vendem cigarros. Mas nunca tem o cigarro que eu quero. Então tomo uma dose de cachaça. Sou guiado pelo ritmo do batuque, pelos acordes dissonando no ar, pelos sorrisos deixados como rastro e pelos cães de rabo abanando. Chegando lá, não vejo A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes. Descubro que o batuque está grudado nas pedras, os acordes nas paredes, os sorrisos nas pessoas, e o que eu seguia é tudo memória. Vejo numa varanda o vulto do palhaço Fugaz. O palhaço Fugaz é aquele que sempre introduz os shows d’ A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes. Paro no Bar do Mineiro. Mas não tem o cigarro que eu quero. Peço uma cachaça. Ouço uma bela moça dizer que os minutos em que A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes passou por ali foram os melhores da sua vida. Pergunto que rumo tomaram e ela responde que seguiram para o antigo Bar do Gomes, que agora virou Armazém São Thiago.  E vou a pé pelos paralelepípedos perguntando às pessoas onde posso conseguir cigarros. No Bar do Gomes, que agora virou Armazém São Thiago, também não vejo a banda. Nem o cigarro que eu quero. Então peço uma cachaça. Um louco me explica que já faz mais de um milênio que A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes passou por ali. E que devo andar até o final dos trilhos do bonde para achá-la, como um pote de ouro no fim do arco-íris. Vou pelo arco-íris e tenho a impressão de ver o palhaço Fugaz passando apressado pela rua, tento segui-lo, mas ele some. O palhaço Fugaz sempre introduz os shows d’A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes.  Volto a andar pelos trilhos do arco-íris e, quando me dou conta, estou de volta ao Largo dos Guimarães.  Mas não vejo a moça bonita. Nem a banda. Passo no Bar Simplesmente pra tomar uma cachaça. Mas não tem o cigarro que eu quero. Ouço o batuque na memória do Largo e o sorriso das pessoas nas paredes e os acordes ressoando pelos rabos dos cachorros que se abanam. Alguém me diz que A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes está na Rua Ocidental. Outro, que está na Rua do Oriente. Um terceiro, que tinham desistido de Santa Teresa e levado sua lírica pra algum lugar da Lapa. Ouço a risada do palhaço Fugaz. Mas o Fugaz sempre foge de mim. Não sei onde está A Fantástica Banda dos Cactos Dançantes. Não sei nem onde eu estou. Só sei que subo ladeiras. Sempre.